O ônibus
estava lotado. Gente
cansada. Festa na cidade.
Fenamilho, e o cansaço
de fim de festa era
evidente no quase silêncio
do ônibus que
seguia pelas ruas, despejando
lá e acolá
um ou outro passageiro.
Chegada
a minha vez, desci e
comecei a caminhar pela
fria madrugada. A neblina
era densa, reduzindo
drasticamente a visibilidade.
Caminhando ligeiro,
afoito para chegar em
casa, olhei para o céu.
Noite clara, de Lua
e de estrelas no farto
céu. Não
havia vento, as folhas
das árvores recebiam
estaticamente o sereno
da muito fria madrugada.
Devido
à festa, o movimento
nas ruas era intenso.
Pessoas iam e viam e
trespassavam a neblina,
o grande acontecimento
daquele dia. Neblina
intensa, espessamente
fazendo-se ser vista
e impedindo-nos da correta
visão das coisas
próximas. E naquela
hora, naquele dia, dei-me
conta: diante de mim,
uma das mais belas madrugadas
de toda minha vida!
As luzes da cidade incidindo
sobre a eloqüente
neblina eram como a
luz do Sol a incidir
sobre espessa fumaça.
O efeito era o mesmo,
e observável
em todas as luzes –
nas dos postes e nas
dos veículos.
Por entre os galhos
das árvores,
luz e neblina formavam
o mesmo espetáculo,
e nas luzes dos automóveis,
o mesmo se fazia colorido.
Tudo era então
fascinante. Para completar
a imensa beleza daquela
hora, a neblina não
permitia muito enxergar,
o que causava a sensação
de se estar adentrando
algo desconhecido, como
se os próximos
cem metros fossem algo
definitivamente misterioso,
propenso a nos revelar
uma grande surpresa.
E toda essa indefinição
e incerteza contrastavam
com a claridade do céu.
Mistério no distante
céu e nos próximos
passos.
Foi uma
belíssima madrugada.