BALADA 
 

(Publicada em 23 de junho de 1.997) 

Já vi muita coisa, muita gente.
Daqui, nunca saí; aqui, vi gente de todo lugar.
Já vi gente boa que morreu jovem;
gente ruim que viveu um século;
gente boa que viveu muito;
gente que não passou dos vinte.

Conheci as maldades e as bondades.
As minhas e as dos outros.
Eu vi gente morrer perto de mim.
Custei a me acostumar a ver a morte de perto.
Hoje, não fico mais pensativo diante da morte.
Mas sempre fui pensativo diante da vida.

Os inconseqüentes não me impressionam mais.
Os distantes não me impressionam mais.
Um Sol me aqueceu, vi as estrelas.
Criei meus filhos, carreguei meus netos.
Tive, sim, desilusões, enganos bobos.
Demorou até achar; achei minha bela.
Ela não morreu de amor, mas sempre soube que morreria amada.

Amo a solidão.
Já amei multidões, revoluções e rebeldias.
Era necessário amá-las; eu as amei.
Quase não consegui me amar.
Fiquei muito envolvido com os outros.
Foi complicado me envolver comigo mesmo.
O tempo e eu soubemos cuidar disso.

Fiquei velho; a morte já não parece distante.
Muitos ficaram destrambelhados depois de velhos.
Tenho medo de me tornar um desses.
Só sei que levarei para o chão o meu corpo.
Nem sei se um deus me levará consigo.
Ou um demônio...
Não acumulei riquezas.
Morrerei com dúvidas.
Não morrerei aflito.

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