Já
vi muita coisa, muita
gente.
Daqui, nunca saí;
aqui, vi gente de todo
lugar.
Já vi gente boa
que morreu jovem;
gente ruim que viveu
um século;
gente boa que viveu
muito;
gente que não
passou dos vinte.
Conheci
as maldades e as bondades.
As minhas e as dos outros.
Eu vi gente morrer perto
de mim.
Custei a me acostumar
a ver a morte de perto.
Hoje, não fico
mais pensativo diante
da morte.
Mas sempre fui pensativo
diante da vida.
Os
inconseqüentes
não me impressionam
mais.
Os distantes não
me impressionam mais.
Um Sol me aqueceu, vi
as estrelas.
Criei meus filhos, carreguei
meus netos.
Tive, sim, desilusões,
enganos bobos.
Demorou até achar;
achei minha bela.
Ela não morreu
de amor, mas sempre
soube que morreria amada.
Amo
a solidão.
Já amei multidões,
revoluções
e rebeldias.
Era necessário
amá-las; eu as
amei.
Quase não consegui
me amar.
Fiquei muito envolvido
com os outros.
Foi complicado me envolver
comigo mesmo.
O tempo e eu soubemos
cuidar disso.
Fiquei
velho; a morte já
não parece distante.
Muitos ficaram destrambelhados
depois de velhos.
Tenho medo de me tornar
um desses.
Só sei que levarei
para o chão o
meu corpo.
Nem sei se um deus me
levará consigo.
Ou um demônio...
Não acumulei
riquezas.
Morrerei com dúvidas.
Não morrerei
aflito.