Ando
por aí como quem
não quer nada.
Ficarei sem jeito se
perceberem que quero
tudo. Entretanto, com
uma caneta e com um
papel, não me
importo em dizer que
quero tudo. É
o meu jeito de dizer
o que quero, é
assim que consigo exteriorizar
mais de mim. Ainda há
coisas que calo, ainda
há coisas que
não contei e
que vivem insistindo
em conhecer um leitor,
ainda há coisas
que não sei bem
como contar. Mato-me
cada vez que finjo não
ouvir as vozes que vêm
de mim. Às vezes
mato-me por não
compreendê-las
bem; às vezes
não as escuto
por covardia.
Aonde
quer que eu vá,
não saio de casa,
apenas passo para um
outro cômodo.
Quero o mundo, quero
conhecê-lo. E
para que eu conheça
algo, tenho de passar
algum tempo com ele.
Não posso afirmar
que conheço alguém
sem passar um mínimo
tempo com esse alguém.
Quanto mais tempo eu
passar com esse alguém,
mais vou conhecê-lo,
mesmo sabendo que jamais
vou conhecê-lo
totalmente. O mesmo
vale para o conhecimento
que tenho de mim. Se
eu me dedicar a mim
mesmo, daqui a dez anos
vou saber mais de mim
do que sei hoje. E morrerei
sem saber tudo.
Posso
ainda não conhecer
alguém, mas conhecer
o seu trabalho. Não
conheci Fernando Pessoa.
Entretanto, sua obra
me arrebata. Quanto
mais eu me debruçar
sobre sua obra, mais
vou me encantar com
o ser que criou tal
trabalho. Gosto dele
pelas suas obras, pois
é essa a faceta
que conheço dele.
Minha relação
com Deus é a
mesma. Não O
conheço, mas
tenho uma reverência
e uma curiosidade intrínsecas
pelas coisas. Procurar
conhecer as coisas é
meu modo de me interessar
por Deus. É por
isso que me interesso
por gente, por bicho
ou por estrelas. As
coisas estão
em toda parte. Quero
destrinchá-las.
Destrinchando-as, pode
ser que eu conheça
a essência Daquilo
que as fez. Que venham
as coisas. Quero as
ler. Quero ler o mundo.
Afinal, torno-me aquilo
que leio.
Leitura
e reflexão. Refletir
é ensinar para
si mesmo, e se você
não compreende
à sua maneira,
você não
pode ensinar. Os costumes
mudam; as essências
não. E as essências
estão mais perto
do que a gente suspeita.
Vai além quem
muito bem vive o aquém.
A história é
feita de improbabilidades.
As possibilidades só
se exaurem quando não
são experimentadas.