É
curioso, mas quando
rabisco um verso qualquer
em qualquer folha e
a deixo vagando em meio
à bagunça
de escrivaninha, percebo
que outros versos dificilmente
vêm. De certo
modo, tenho de me “livrar”
de um poema para tentar
a feitura de outro;
tenho de guardar o poema
terminado em local seguro.
Se ele permanece em
meio à desordem,
estou sempre o deparando,
lembrando-me dele, o
que me impede de partir
para outro. O medo de
sumi-lo me faz ficar
encalhado.
De certa
forma o mesmo ocorre
com as idéias
que tenho. Algumas delas
discretamente se insinuam,
não me deixam
esquecê-las; até
se aprimoram na surdina,
em minha inação.
Chega um ponto em que
tenho de escrevê-las.
Infelizmente, isso não
ocorre freqüentemente.
Às
vezes a poesia é
visita inesperada. Quando
é assim, ela
não exige tratamento
magnífico, mas
se nem anotamos sua
presença em qualquer
papel, ela buscará
outro anfitrião.
Coisas que “passam
perto da gente como
abelhas”, de acordo
com Neruda. São
essas coisas que tenho
tentado apreender. Quando
estou prestes a me deitar,
deixo no ponto papel
e caneta. Já
pude constatar a eficácia
do método. Tenho
agora de me habituar
a carregar papel e caneta.
Já pude constatar
a ineficácia
do desábito.
Tenho
mesmo de me envolver
com as coisas, com o
mundo. A melhor forma
de fazer o tempo passar
é fazer algo.
Estando à toa,
tenho a impressão
de que o tempo pára.
Ademais, em momentos
ociosos sou vaidoso,
o que não é
próprio. Quando
faço um verso,
torno-me-o livre; quando
consigo atropelar a
preguiça, medro
minha vida; quando aprendo,
consigo ter esperança.
Em mim e nos outros.
Jamais fui seduzido
por ismo algum. Mas
um que certamente me
seduziria seria o livrismo,
derivado de livro ou
de livre – o que
dá na mesma.
Se existisse, pode ser
que me tornasse um livrista.
Escrever
para periódicos
é a arte de dizer
com várias palavras
o que poderia ser dito
com quatro ou cinco.
Meu espaço está
acabando; tudo bem.
Só após
escrever algo que agrada
a mim é que me
dou por vencedor. Ao
terminar a crônica,
quase me sinto assim.