MEU PRIMEIRO TEXTO INESQUECÍVEL 
 

(Publicada em 17 de janeiro de 1.998) 

Como não é sabido por muitos, já escrevi alguns textos. Se não fosse pela minha insegurança, eu poderia ter escrito mais e melhor. Ao escrever, é aquela velha agonia: a de pensar se os outros vão gostar, o que vão dizer, o medo de ser criticado. Nem gosto de mostrar os textos para meus amigos. Tenho medo do que eles possam vir a dizer. O medo não é o de tornar público o texto, seja por que meio for. O medo é o de acompanhar as reações do leitor cara-a-cara. Do leitor distante, não tenho medo. Pensando bem, nem da crítica feita à distância. O terrível é aquela crítica feita diante de minhas inseguranças.

Desde menino, tenho lido muita coisa. Muitos textos foram lidos quando eu ainda era muito jovem; não foram devidamente aproveitados. Nietzsche é um exemplo de leitura que veio muito cedo. O bom é que há muito tempo para releituras (assim espero). Entretanto, a vontade de escrever ou a suspeita de que eu tinha habilidade para a coisa ou mesmo a constatação de que eu gostaria de produzir textos veio num dia em que eu teria de escrever uma redação como dever de casa. Vários títulos foram sugeridos pela Lúcia, a professora. Eu teria de escolher um. Havia uns dez.

Eu escolhia um, e nada. Escolhia outro, e nada. Tentei vários, mas nada, nada e nada. Quase desistindo, e quase já tendo escolhido todos os títulos, “Minhas Mãos” foi a sugestão ceticamente escrita no papel. Antes de começar a escrever, fiquei algum tempo olhando para as mãos. Observava-as de um lado, do outro; fazia gestos, colocava uma em contato com a outra. Fui me dando conta de que eu ainda não as analisara merecidamente. Esquecido da redação, fiquei nesse namoro.

Quando comecei a escrever, as frases vieram sem tropeço, jorrando de minha mão que velozmente tentava acompanhar o fluxo de idéias. Aquele jorro me dava prazer, as frases iam se tornando numerosas, eu ia me permitindo ser levado pelas sensações que brotavam e pela mão que ia preenchendo o papel. Tudo fácil, claro. Eu me sentia sendo o que sou, sentia-me livre, em paz.

Acabado o texto, reli. Reli de novo. Pensei: “Me senti tão bem. Seria ótimo sentir-me desse jeito novamente. Quem sabe, se eu tentar escrever sempre, não vou sempre me sentir assim?” Movido por tais pensamentos, passei a escrever.

Não sei mais qual a nota. Já tentei achar a redação. Eu a reescrevi. Não gostei. Eu queria palavra por palavra. Ela deve ter mesmo se perdido por aí.

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