UM INCIDENTE 
 

(Publicada em 3 de novembro de 1.995) 

A aula transcorria quase normalmente, pois o barulho era imenso. A maioria dos alunos estava conversando, sem interesse pelo professor, pela matéria ou seja lá o que for. Para os poucos que pareciam interessados, eu prosseguia com as explicações. O ambiente continuava ruidoso. Uma aluna pediu-me:

– Você deveria falar um pouco mais alto.

Àquela altura, já desgastado e impaciente, devido à algazarra dos alunos, retruquei:

– Vocês é que deveriam conversar menos.

Ela revidou:

– Mas eu não estou conversando.

E não estava mesmo. Ela tinha razão. Nada mais não dissemos um para o outro, e a partir de então uma atmosfera pesada tomou conta da sala de aula. Havia uma tensão pairando, mal aguardei o horário terminar. Saí sem me despedir dos alunos.

Durante o período em que não lecionei para a mencionada turma, eu e a aluna que havia me pedido para falar mais alto nos encontramos diversas vezes nos corredores da escola. Nada falávamos um com o outro e desviávamos nossos olhares.

Para ser sincero, eu não estava disposto a enfrentar novamente toda aquela baderna. Na semana seguinte ao incidente, entrei apreensivo em sala de aula. Para minha surpresa (e alívio), havia poucos alunos em sala. Tudo transcorreu sem problemas. Não mais tive desentendimentos com a turma desde então. Num dia, ela (a aluna), se propôs a resolver uma questão no quadro. Em troca da solução correta ela me pedira dois pontos. Topei. Ela ganhou os pontos. Após o término da aula pensei ser isso um bom sinal. Afinal, havíamos mantido diálogo novamente. Um diálogo amistoso.

Há alguns dias cheguei a um barzinho. Lá estava a aluna dos dois pontos. Foi logo me chamando, sorridente. Disse-me que há um tempão estava com um recado de um amigo meu para ser transmitido a mim. Iniciamos uma conversação, tomamos cerveja, descobrimos outras amizades em comum e iniciamos a nossa.

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