LONGFELLOW, O CAMARADA 
 

(Publicada em 8 de novembro de 1.996) 

Quando eu tinha oito anos, nove, dois livros me envolviam. Um deles se chama “As mais Belas Histórias”. Entre elas, a de Rapunzel e a de Ariadna. O outro é “As mais Belas Poesias”.

Ambos os livros são ilustrados. O primeiro tem um prefácio que eu acho o máximo. Lembro-me de “A Gata Borralheira”, de “O Gato de Botas”, de uma que traz como personagens principais quatro animais, e se chama “Os Músicos de”... Qual é mesmo a última palavra?

As ilustrações do segundo muito me atraíam. Algumas delas eu até cismava que era capaz de desenhá-las. Ele contém poesias como “Círculo Vicioso”, de Machado de Assis, “O Baile na Flor” (não me lembro do nome do autor), algo de Olavo Bilac e Rabindranath Tagore, entre outros.

Dos livros que li na infância, são esses os dois freqüentemente relembrados. Estou até mesmo pensando em tentar adquirir edições mais recentes ou livros em melhor estado. Além do mais, salvo engano, o livro “As mais Belas Histórias” é dividido em quatro volumes, e só tenho um.

Em meados do ano passado conheci o professor Edson. Ele dá aula de redação. Tornamo-nos amigos, e a literatura tornou-se assunto comum entre nós. Com a vivência de quem já leu e viu mais do que eu, ouvi-lo é sempre bom. De vez em quando, mostro pra ele algo que escrevo. Como a amizade gradativamente tornava-se sólida, ele me emprestou um livro chamado “Análise e Interpretação da Obra Literária”, de Wofgang Kayser, um grande autor. Tanto gostei do livro que ele já faz parte das desejadas futuras aquisições. Fiquei uns seis meses com o livro dele.

Ao pensar que já era então o fim desse capítulo, ele me empresta o segundo volume da obra de Wofgang Kayser. Eufórico, iniciei a leitura em sala de aula, enquanto aplicava prova. Chegando em casa, comecei a folhear o livro, pescando trechos aqui e ali, quando deparei um poema intitulado “The Arrow and the Song”. Iniciei, por curiosidade, sua leitura. À medida que lia, sentia um quê de familiaridade, e antes do término da segunda estrofe me lembrei de que já conhecia o poema desde pequeno, graças à coletânea “As mais Belas Poesias”.

Foi ótimo reler, tempos depois, e num outro livro, um poema que eu tanto lera na infância. Seu autor é H.W. Longfellow, e a tradução a seguir, extraída do livro que o Edson me emprestou, é ligeiramente diferente dos versos lidos na infância. Este é o poema:

“Disparei para o ar uma seta,/Caiu na terra, não sei onde;/Pois tão depressa ela voou que o olhar/Não a pôde seguir no vôo.//Uma canção eu exalei para o ar;/Caiu na terra, não sei onde;/Pois que olhar tão agudo, tão forte,/Capaz de seguir o vôo de uma canção?//Muito tempo depois, num carvalho/Encontrei a seta, ainda inteira;/E a canção, do princípio ao fim,/Num coração amigo fui de novo encontrá-la”.

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