Tudo
começou quando
eu procurava dois textos
de Antonio Maria. Revirei
e revirei velhas pastas.
Não achava os
textos, mas deparava
coisas que nem me lembrava
mais de ter. Algumas,
reli. Então,
justamente quando eu
já estava quase
desistindo, encontro
uma velha fotografia.
Achei tão bom
revê-la que quase
decidi deixar para uma
outra ocasião
os textos de Antonio
Maria. Entretanto, coloquei
a foto sobre a escrivaninha
e voltei à caça
das crônicas.
Achei-as. Satisfeito,
as reli. Além
dessa pequena parte
da obra dele, conheço
uns trechos seus publicados
numa crônica de
Luis Fernando Verissimo.
Terminada a releitura
dos textos de Antonio
Maria e da crônica
de Verissimo, apanhei
novamente a foto.
Um tom
meio amarelo. Não
sei se foi feita assim
ou se é obra
do tempo ou as duas
coisas. Eu e mais três
na foto. Éramos
colegas de sala, e naquele
momento estávamos
na fazenda de um outro
colega. Nossos corpos
eram ingênuos,
nossas caras ainda não
haviam crescido.
Releio
para perceber o que
estava nas entrelinhas
e não percebi,
talvez por falta de
maturidade. Faço
agora a releitura de
uma imagem. Assim como
reler nos ensina, sinto
que há coisas
na foto que ficaram
para trás, sem
que eu tenha conseguido
as revelar.
Fotografias.
Dão um clique
na saudade e iluminam
o passado com seu flash.
E estou reparando...
Eu ouço risos,
me lembro de gestos,
me recordo de falas.
Todos vêm do passado,
de um passado estático
sobre minha escrivaninha.
Vejo o passado e volto
para o presente.
Nossas
diversões são
outras, nossos caminhos
não se coincidem
mais, nossa distância
vai aumentando. Dou
uma última olhada
na foto. Queria sentir
saudade também
do(a) fotógrafo(a).
Embora tenhamos estado
frente a frente, nem
a foto (espelho que
reflete sempre o mesmo
instante) nem a memória
o(a) trazem. Numa dessas
andanças vou
me lembrar dele(a) ou
mesmo estarei em sua
companhia – talvez
sem suspeitar ser ele(a)
quem desencadearia minha
saudade.
Já
é hora de guardar
o passado de novo. É
madrugada; devo dormir.
Daqui a pouco terei
de estar de pé.
Largo a foto, mas o
pensamento está
no passado, tirando
fotografias. Não
muito nítidas,
evocando acontecimentos
fora de ordem cronológica,
evocando cenas fugazes.
De um pulo só
passo para o futuro,
recomeço com
os velhos ideais, tirando
fotografias. Não
muito nítidas,
evocando acontecimentos
fora de ordem cronológica;
evocando cenas fugazes.