MARIA DOS SANTOS SILVA 
 

(Publicada em 28 de março de 1.998) 

Maria dos Santos Silva mora perto de minha casa. Desde quando eu era menino, nós temos passado um pelo outro, mas nunca havíamos nos falado. Dona Maria tem 71 anos, completos no dia primeiro de março. Hoje, é viúva. Foi casada com Benedito Hermenegildo da Silva. Ela não se lembra mais há quanto tempo se casou. Não se lembra mais há quanto tempo começou a vender pipoca em Patos de Minas.

O que me leva a escrever sobre dona Maria foi o que me disse o Giovane, um amigo, enquanto tomávamos uma cervejinha num bar. Ele me contara que ela havia recebido uma homenagem no dia oito de março. Fez a homenagem, uma associação de mulheres de Patos de Minas. O tributo foi um reconhecimento à dedicação de uma senhora que há décadas, com muita força, realiza seu trabalho. Antes de ele me contar a história da homenagem, eu não havia reparado na história dela.

Dona Maria prossegue incansável. Segundo Eduardo, um dos netos, “ela trabalha para se distrair”. Seja por que motivo for, ela continua. A próxima vez em que você passar pela esquina da Getúlio Vargas com Olegário Maciel, repare. A partir de aproximadamente quatro da tarde vai haver ali uma senhora baixa e de olhar triste, vendendo pipoca até mais ou menos às dez da noite. Se ela não estiver lá nesse horário, é porque choveu ou então é porque ela foi à missa. Há mais de vinte anos pode ser vista trabalhando nesse mesmo lugar.

Ela e o marido trabalharam juntos. Ele ficava de um lado da esquina; ela, do outro. Além de pipoca, ele vendia quebra-queixo. Eu mesmo me lembro de comprar quebra-queixo dele, quando estudei no Polivalente; ele fazia ponto lá. O Giovane me contou que certa vez o senhor estava indo a um campo de futebol para vender lá seu famoso quebra-queixo. No caminho, estando em bicicleta, caiu. A molecada não perdoou, e logo cercou o senhor Benedito como abelhas zangadas. Quase levaram todo o quebra-queixo dele.

De acordo com o Eduardo, dona Maria não fatura mais de cinqüenta reais por mês com suas pipocas. Ela tem de comprar óleo, tem de comprar milho. Quando perguntei para ela se alguém já saiu sem pagar, respondeu: “Ih! Muita gente”. Cada saquinho custa cinqüenta centavos, e ela só vende pipoca com sal. O dia em que mais vende é na sexta-feira da paixão, por causa da procissão.

Atualmente, mora com uma das filhas, também viúva. Hoje (11/03) à tardinha, enquanto eu voltava do trabalho, passei por dona Maria. Estava indo trabalhar.

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