MARK TWAIN ATROPELADO EM PATOS DE MINAS 
 

(Publicada em 16 de junho de 1.997) 

Cheguei à livraria com a seguinte certeza: comprar um livro. Não sabia ainda qual livro eu compraria, mas de lá eu não sairia sem livro. Comecei a vasculhar as estantes. Muitos autores para pouco dinheiro. Por questões financeiras, e também disciplinares, eu havia prometido a mim mesmo comprar um só livro. Ainda que minhas mãos ficassem coçando de vontade de levar mais uns cinco ou seis, seu seria forte o bastante para resistir às facilidades no pagamento ou aos descontos, caso eu pagasse à vista. Após os flertes de praxe, decidi levar para casa “O Príncipe e o Mendigo”, de Mark Twain. Ainda conheço pouco do autor, tendo lido apenas uma coletânea de seus contos.

Saí da livraria satisfeito com minha disciplina. Meu bolso não sofrera tanto. Guardei o livro numa sacola, pendurei a mesma no guidão da bicicleta e tomei o rumo de casa satisfeito da vida, pensando em iniciar a leitura assim que chegasse a meu quarto. Ao tomar o trepidante asfalto da Duque de Caxias, logo após a praça dos Bandeirantes, o livro começou a dar sobressaltos dentro da sacola, reclamando do trajeto. Mesmo diante de tal reação não me sobressaltei, por já estar acostumado aos sacolejos e por achar que o livro não corria riscos. De repente, a alça da sacola se partiu, fazendo com o que o Mark fosse parar no chão, protegido apenas pelo fino material da sacola.

A princípio, não me preocupei. Uma simples queda não o mataria. Assim que fui retornar, divisei um carro que se aproximava lentamente. Não me preocupei novamente. Pensei que o motorista não se arriscaria a passar por cima daquele embrulho branco recém-surgido. Tranqüilamente, aguardei o desvio. Mas ele não desviou. Aí, sim, fiquei preocupado. Sem mais delongas, passou as duas rodas da direita sobre o estirado Twain. Depois, lentamente prosseguiu.

Olhei para o carro que se distanciava. Memorizei sua placa. Finalmente, mudei de idéia. Achei melhor não criar caso por causa de um atropelamento. Retornei e apanhei meu amigo. A sacola morreu; quanto ao Mark, após revirá-lo, percebi que ele sobrevivera.

Retomei o caminho de casa. A duas quadras de meu destino, percebo o carro envolvido no acidente, estacionado. Ao ver que me aproximava, o motorista me perguntou se o embrulho continha algo que fosse quebrável. Respondi que não e ele me pediu desculpas.

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