É
difícil achar
alguém que nunca
tenha sofrido uma perseguição
canina. Estejamos nós
em bicicleta, moto ou
a pé, eles vêm
cima como se fossem
capazes de nos engolir.
Alguns deles, mais ousados,
perseguem automóveis.
Alguns se dão
mal. Um amigo, certa
vez, movido pela mais
genuína raiva,
rachou o cérebro
de um cachorro com um
tiro. Chegou a ser preso
pelo ato, mas sentiu-se
aliviado por ter dizimado
o cão.
Sábado
passado (24/08), Mário
Júlio, locutor
de uma emissora de rádio
local, contou-me a história
ocorrida em plena escuridão
da madrugada, ocasião
em que ele voltava para
casa tranqüilamente.
Não sei quando
se deu o fato, mas ele
é digno de ser
contado.
Ele impunha
um ritmo calmo a seus
passos. Em três
ou quatro minutos estaria
em casa. Quando tudo
parecia estar mesmo
sem alguma possível
reviravolta, ele ouviu
um latido grave, que
só poderia ser
emitido por um cachorro
grande. Virou-se para
trás e viu a
materialização
de seus pensamentos.
Era, sim, um animal
imenso, vindo da escuridão.
Sem pestanejar, já
que não havia
como pensar duas vezes,
Mário iniciou
sua corrida noite adentro,
enquanto ouvia o cão
ladrar como se ladrão
perseguisse.
É
uma pena não
podermos ensinar aos
cães a verdade
de que só os
invasores de lares devem
ser submetidos a apuros
como esses em que se
encontrava o Mário,
correndo o mais que
podia no caminho que
bem conhecia. Quanto
mais corria, mais alto
ouvia os latidos do
voraz cachorro. Mas
ele não se entregava,
e com o coração
disparado, buscava uma
energia que ele nem
sabia se tinha.
Situação
delicada, a dele. Se
fosse um cãozinho
qualquer, era só
correr atrás
dele e ver o animal
voltar para casa mais
veloz do que ao sair.
Bem sabemos que ao sermos
perseguidos por uma
ferazinha exaltada,
é fácil
e prazeroso fazê-la
recuar assustada. É
uma pena não
tomarmos a mesma atitude
ao sermos perseguidos
por um cachorrão.
Nessas questões,
tamanho é documento,
e sem conseguir fazer
com que suas pernas
disparassem mais do
que seu coração,
Mário ficou pasmado
ao ver passar por si
o cão que o perseguia.
Passou à frente
dele como se ele nem
existisse.
Ao chegar
em casa, ainda com o
coração
batendo descompassadamente,
é que ele pôde
desfrutar o alívio
de estar o cachorro
perseguindo um também
assustado gato.