Os nomes
que darei aos personagens
que se seguem não
importam. Desconsidere-os.
O nome aqui será
uma convenção.
Os nomes de todos eles
serão adereços.
Não me pediram
para serem poupados;
mesmo assim, prefiro
não me valer
do nome que cada um
carrega em sua carteira
de identidade.
Era terça-feira,
17 de março.
Entre vinte e vinte
e trinta. Quatro pessoas
estavam na sala, acompanhado
pela televisão
o noticiário.
Todos prestando atenção
na telinha. A audiência
só seria abalada
quando Nara fez, primeiro,
uma expressão
assustada, para então
comentar descontraidamente:
“Olha só
quem está ali”.
Dona
Rita, no sofá,
logo tratou de tirar
os pés do chão
e ficou toda encolhida;
Sérgio, o único
homem que estava em
casa no momento –
ou pelo menos o único
em condições
de travar luta naquela
ocasião, pois
o filho dele e de Nara
tem apenas alguns meses,
e estava dormindo –,
estilingou para a varanda
e de lá ficou
acompanhando toda a
agitação
que tomara conta da
sala desde o momento
em que Nara havia anunciado
a presença de
um sapo.
Nem grande,
nem pequeno; escondidinho
atrás do sofá,
no canto. Entrara sorrateiro,
discreto, e assim permanecia.
Havia encontrado um
lugar, uma sala para
estar. Lá estava,
silencioso como os gatos
que circulam pela casa
de dona Rita. Ele jamais
poderia imaginar que
causaria fuzuê.
Ficou nítido
que Natália e
sua irmã, Nara,
não poderiam
contar com Sérgio
para retirar o sapo.
Dona Rita, mãe
delas, mostrava-se disposta
a permanecer no sofá
pelo resto dos dias.
Natália e Nara
olharam-se uma à
outra. Saíram.
Natália voltou
com um rodo; Nara trazia
uma vassoura.
A contenda
teve início.
Nara tentaria varrê-lo;
Natália, com
o rodo, tentaria impedir
o anfíbio de
se enveredar pelos demais
cômodos em busca
da paz que havia sido
interrompida.
Vai daqui,
vai dali e dona Rita
ia ficando menor e menor;
Sérgio esticava
o pescoço, vendo
o labor de sua esposa.
Não tinha como
saber quem tinha mais
medo de quem. O sapo
vacilava, lutava; Nara
tentava varrê-lo;
Natália se ligava
na cena. Nada do que
William Bonner falasse
poderia fazer com que
se dispersassem.
Nara
e o sapo. O sapo e Nara.
Conseguindo encaixá-lo
sob a vassoura, ela
o domou. Já na
porta da sala, Natália
assumiu a operação
e acabou de empurrá-lo.
O sapo cruzou a varanda
e foi ver televisão
noutro lugar.