Acredito
em Deus, não
em um deus que interfere
em nossas vidas, num
deus que atende às
preces. Estamos sozinhos.
Não creio haver
um ser que vela por
nós, que nos
ajude naquelas situações
mais necessitadas. Não
acredito num ser que
escuta nossos clamores.
Ontem
(3/11) eu conversava
com uma colega de sala.
Nós nos conhecemos
no ano passado. Ela
é extremamente
calada em sala de aula;
raramente tem-se a chance
de escutá-la.
Somente quando a pedem
para apresentar algum
trabalho pode-se saber
a bela cor de sua voz.
E curioso: nunca a vi
manifestar alguma dúvida.
Por certo ela as tem.
Qual a razão
de ela não as
manifestar, já
que é tão
competente aluna? Ou
será que é
pelo motivo de ser competente
demais? Será
timidez?
Geralmente
conversamos pouco um
com o outro, mas nossos
diálogos são
úteis. Ela discorda
de mim, quando digo
que estamos sem apoio,
que deus nenhum nos
auxilia.
Na conversa
de ontem, nada dizíamos
sobre crenças.
Ela me disse que está
vivendo um momento difícil
de sua vida, barra pesada.
Não deu mais
detalhes. Fiquei com
vontade de poder fazer
algo por ela. Enquanto
pensava se poderia ajudá-la,
escutava o que me dizia.
Não comentou
nada sobre o problema
ou problemas que enfrenta.
O que me surpreendeu
foi o que ela me disse
antes de encerrar seu
comentário sobre
a situação
difícil que a
rodeia.
Ela disse
que acredita (e nesse
momento, como que abrindo
um parêntese,
ela lembrou minha descrença
na intervenção
de um deus em nossas
vidas) que sou uma das
pessoas que Deus colocou
em seu caminho nessa
difícil fase
da vida dela.
Fiquei
surpreso. Jamais eu
podia suspeitar que
era visto por ela dessa
forma. Senti privilégio
e responsabilidade,
fiquei sem saber o que
dizer ou o que fazer.
Como
podemos nos enganar
a respeito da forma
como julgamos que os
outros nos olham. Achei
o comentário
dela importante, íntimo.
E se ela estiver certa,
se nossa aproximação
tiver mesmo um toque
divino, não posso
deixar de dizer que
isso também contribui
para o privilégio
a que já me referi.
A responsabilidade também
aumenta. Se na verdade
as coisas são
assim, creio ser uma
boa ser o escolhido
de Deus para, de algum
modo, ajudar alguém.
Caso as coisas sejam
assim, não deve
ser de todo ruim cumprir
os desígnios
de Deus – se é
que Ele os tem da forma
como se suspeita.
Tenho
razões para querer
ajudá-la. Admiro-a,
torço por ela.
Possa eu fazer algo,
possa eu ajudá-la
por meio da vontade
divina. Ou apesar da
falta ou da ignorância
desta. E, se for o caso,
que Deus nos ajude.