Lembro-me
muito bem. Era uma noite
de sábado. A
primeira vez em que
a vi foi numa festa.
Ela chegou; alta, morena.
Passou pela soleira
e tropeçou no
tapete. Pareceu-me que
cairia, mas não
caiu. Ao se recompor,
seus olhos depararam
os meus. Senti-me aliviado
pelo fato de ela não
ter caído, e
ela, como que percebendo
meu alívio, sorriu
timidamente.
Por falar
em timidez, logo logo
tive a impressão
de que essa era uma
das principais características
da garota. Falava pouco,
gestos contidos. Num
determinado momento
da festa, estando ela
a conversar com uma
amiga minha, aproximei-me
das duas, criando então
a primeira oportunidade
de falar com ela, o
que foi muito aprazível.
Como ela não
estava bebendo nada,
ofereci-lhe cerveja.
Recusou, pedindo-me
para buscar refrigerante.
Ao voltar, mais uma
pessoa já havia
se integrado à
rodinha. Em um instante,
e já éramos
seis. Decidi dar um
giro pela casa, mas
ainda me sentindo atraído
por ela.
A festa
prosseguia animada,
e eu pensando na garota.
Cercado de pessoas,
bebidas e comidas, eu
ia meditando uma maneira
de manter contato com
ela numa outra ocasião.
A possibilidade de acompanhá-la
até sua casa
era remota. Ela poderia
morar muito longe; não
tenho carro nem moto.
De vez em quando nossos
olhares se encontravam.
Esperançosamente
eu tentava perceber
em seu olhar castanho-claro
algum possível
interesse dela por mim.
O tempo passava e comecei
a temer que a qualquer
momento ela poderia
ir embora. Eu tinha
de dar-lhe o número
de meu telefone, ou
mesmo conseguir o dela,
quem sabe. Teria de
me reaproximar, torcer
para que ficássemos
algum tempo conversando
sem que nova rodinha
se formasse. Peguei
papel e caneta; quando
ia já escrevendo
meu nome e número
de meu telefone, tive
a idéia de escrever
para ela um poema. Escrevi,
assinei, deixei o número
no papel e o coloquei
no bolso da camisa.
Em dois ou três
minutos reaproximei-me
e entreguei-lhe o pedaço
de papel dobrado. Ela
não me ligou,
situação
que lamentei duplamente:
nem eu nem o poema fomos
o bastante para convencê-la
a ligar. Uma pena. Afinal,
eu achara bem-escrito,
e dele não tenho
cópia.
Voltando
às aulas, entrei
animado na sala. Comecinho
do ano letivo. Hoje
ela é minha aluna.