Esta
crônica talvez
tenha vindo tarde demais.
Há tempos penso
em escreve-la; aparentemente
sem motivo, fico adiando,
adiando...
Tudo
começou quando
eu era adolescente.
Era bom ligar o rádio
e escutá-lo cantar.
Cresci ouvindo rock,
e era bom vibrar com
“Tempo Perdido”,
“‘Índios’”,
“Será”
ou “Quase sem
Querer”. Canções
com uma cara pop, rock
ou folk e uma letra
interessante.
As letras
não eram tudo.
Eu gostava da voz dele,
ficava de olho em tudo
quanto é revista
em busca de uma entrevista.
Lia tudo o que via publicado
sobre a banda, conversava
com outros fãs
e ia colecionando mais
e mais informações.
Eu gostava do nome da
banda, gostava do jeito
como ele dançava,
achava o máximo
ele fugir do padrão
carinha bonitinha do
mundo da música
pop. Eu o achava atípico.
Ele mesmo
disse que a Legião
Urbana começou
imitando bandas inglesas.
Lembro-me que um leitor
certa vez escreveu para
uma revista sobre música
e se referiu a Russo
como “Renato Mamãe-eu-quero-ser-morrissey-quando-eu-crescer
Russo”. Morrissey
é aquele que
já foi vocalista
dos Smiths, banda inglesa.
Assim mesmo meu interesse
continuava.
Quando
criança, fiquei
em Brasília seis
meses, tratando de minha
paralisia infantil.
Muito depois, enquanto
lia uma entrevista com
Renato, descobri que
ele morava lá
na mesma época.
Fiquei exultante. Eu
já estivera “perto”
dele, o que novamente
ocorreria quando ele
veio a Patos de Minas.
Mas, perto, mesmo, foi
no dia 21 de agosto
de 1.992, data de um
show que a banda realizou
em Uberlândia.
Após averiguações,
descobri em que hotel
Renato ficaria. Aguardei
por horas e horas sua
chegada. Ele chegou,
foi logo entrando, assinou
algum papel e voltou
para conversar com as
pessoas que o aguardávamos,
pois havíamos
sido barrados. Quando
ele já estava
bem perto, o achei muito
magro, e me surpreendi
com sua estatura. Eu
pensava que ele era
alto.
Uma das
perguntas que fiz para
ele foi se ele se lembrava
de ter tocado em Patos
de Minas. Ele me olhou
espantado e disse que
sim. Perguntou-me se
eu estivera no show.
Quando eu disse que
não, afirmando
que na época
eu tinha uns onze ou
doze, ele disse: “Pôxa,
tô ficando velho”.
Não
ficou. Vou sempre me
lembrar dele. Por exemplo:
o que me levou a ler
Gabriel García
Márquez foi uma
entrevista concedida
por Renato, em que ele
elogiou o escritor colombiano;
o primeiro disco comprado
por mim foi o “Dois”.
Faltando pouco dias
para ele morrer, cheguei
a ligar para a gravadora
dele, tentando marcar
uma entrevista. Não
houve tempo.