Houve
uma época em
que eu trabalhava aos
domingos, às
sete horas. Lembro-me
de como era trabalhoso
acordar cedo em plena
manhã de domingo,
num tempo em que eu
tinha folga aos sábados.
Muitas vezes eu nem
dormia; era da farra
para o trabalho. Também
terrível era
levantar-me em dia frio
e chuvoso. Dava uma
vontade de ficar sob
as cobertas. Cada minuto
sob as mesmas era imensamente
usufruído. Levantar,
só quando o último
pingo de areia passasse
por aquela ampulheta
dominical.
Num daqueles
dias frios levantei-me
sonolento. Chovera durante
a madrugada, mas, quando
saí, não
chovia. Assim que saí
de casa pude ver um
garoto vizinho meu,
vindo de uma rua contígua
à rua em que
moro. Menino peralta,
desses que desconhecem
acanhamento, conversam
com todos. Vi que ele
dizia algo, mas não
pude perceber o que
era. Como eu estava
em bicicleta, e ele,
a pé, foi fácil
alcançá-lo.
Ao me aproximar dele,
diminuí a velocidade
para escutar o que ele
alegremente dizia. Era
o seguinte: “Bom
dia. Acorda, gente!”
Em toda casa pela qual
passasse o garoto desejava
bom dia e dizia aos
moradores para se levantarem.
Fui me distanciando
dele até não
mais escutar sua voz.
Ele,
cedo na rua numa manhã
fria de domingo. Ao
escutá-lo e vê-lo
tão disposto
num dia em que eu estava
tão apagado,
animei-me, fui contagiado
pela disposição
do garoto. E tive um
bom dia.