Maria
dos Santos Silva mora
perto de minha casa.
Desde quando eu era
menino, nós temos
passado um pelo outro,
mas nunca havíamos
nos falado. Dona Maria
tem 71 anos, completos
no dia primeiro de março.
Hoje, é viúva.
Foi casada com Benedito
Hermenegildo da Silva.
Ela não se lembra
mais há quanto
tempo se casou. Não
se lembra mais há
quanto tempo começou
a vender pipoca em Patos
de Minas.
O que
me leva a escrever sobre
dona Maria foi o que
me disse o Giovane,
um amigo, enquanto tomávamos
uma cervejinha num bar.
Ele me contara que ela
havia recebido uma homenagem
no dia oito de março.
Fez a homenagem, uma
associação
de mulheres de Patos
de Minas. O tributo
foi um reconhecimento
à dedicação
de uma senhora que há
décadas, com
muita força,
realiza seu trabalho.
Antes de ele me contar
a história da
homenagem, eu não
havia reparado na história
dela.
Dona
Maria prossegue incansável.
Segundo Eduardo, um
dos netos, “ela
trabalha para se distrair”.
Seja por que motivo
for, ela continua. A
próxima vez em
que você passar
pela esquina da Getúlio
Vargas com Olegário
Maciel, repare. A partir
de aproximadamente quatro
da tarde vai haver ali
uma senhora baixa e
de olhar triste, vendendo
pipoca até mais
ou menos às dez
da noite. Se ela não
estiver lá nesse
horário, é
porque choveu ou então
é porque ela
foi à missa.
Há mais de vinte
anos pode ser vista
trabalhando nesse mesmo
lugar.
Ela e
o marido trabalharam
juntos. Ele ficava de
um lado da esquina;
ela, do outro. Além
de pipoca, ele vendia
quebra-queixo. Eu mesmo
me lembro de comprar
quebra-queixo dele,
quando estudei no Polivalente;
ele fazia ponto lá.
O Giovane me contou
que certa vez o senhor
estava indo a um campo
de futebol para vender
lá seu famoso
quebra-queixo. No caminho,
estando em bicicleta,
caiu. A molecada não
perdoou, e logo cercou
o senhor Benedito como
abelhas zangadas. Quase
levaram todo o quebra-queixo
dele.
De acordo
com o Eduardo, dona
Maria não fatura
mais de cinqüenta
reais por mês
com suas pipocas. Ela
tem de comprar óleo,
tem de comprar milho.
Quando perguntei para
ela se alguém
já saiu sem pagar,
respondeu: “Ih!
Muita gente”.
Cada saquinho custa
cinqüenta centavos,
e ela só vende
pipoca com sal. O dia
em que mais vende é
na sexta-feira da paixão,
por causa da procissão.
Atualmente,
mora com uma das filhas,
também viúva.
Hoje (11/03) à
tardinha, enquanto eu
voltava do trabalho,
passei por dona Maria.
Estava indo trabalhar.