UMA NOITE INESQUECÍVEL 
 

(Publicada em 8 de dezembro de 1.995) 

Era uma noite sem estrelas. Minha mãe, meu irmão e eu estávamos na casa de uma tia minha. Ao chegar a hora de irmos embora, lembro-me que recebemos de minha tia a orientação de voltarmos para casa o mais rápido possível. Caso contrário, correríamos risco de vida. Entregou um embrulho à minha mãe, despedimo-nos rápido e pusemo-nos a caminho de casa.

Andamos poucos metros e logo perguntei para minha mãe o que estava embrulhado naquele jornal. Se ela respondeu, não me lembro. Em seguida, perguntei-lhe o motivo pelo qual era necessário estarmos em casa tão rapidamente, e ela disse que em pouco tempo alguns vaqueiros estariam percorrendo as ruas da cidade, e se encontrassem alguém fora de sua casa, a pessoa seria morta por eles. Segundo ela, estariam conduzindo uma manada. Quem ousasse ficar nas ruas, poderia também ser pisoteado pelos animais. Ou da manada ou dos vaqueiros não se escaparia.

Tanto me assustou o relato que, apesar de meus quatro ou cinco anos, eu me vi puxando minha mãe, quase que a obrigando a correr; ela, por sua vez, puxando meu irmão. De nada adiantava ela tentar me acalmar, afirmando que tínhamos tempo o bastante para que chegássemos vivos em casa. Eu só queria correr, estar em minha casa, estar vivo. Logo me cansei, mas a gana de me sentir seguro era maior. Corri muito, fiz com que corressem muito.

Vislumbrei nossa casa. Faltava uma esquina para que lá chegássemos. Foi então maior o meu ímpeto. Melhor escrevendo, meu desespero. As ruas desertas, a noite escura. Já havíamos caminhado uns quinze minutos. Só de imaginar que os vaqueiros poderiam surgir, vindos de uma outra esquina, consegui impor ainda mais ritmo à nossa pressa. Chegamos, abrimos o portão e entramos. Estávamos vivos. Dez minutos depois, os vaqueiros. Observamos pela janela semiaberta a algazarra que faziam. Gritavam muito. Com grande alvoroço conduziam a manada.

Muitos anos se passaram, e um dia perguntei para minha mãe se ela se lembrava daquele dia tenebroso. Ela disse que não, concluindo que provavelmente a história teria sido sonho meu. Perguntei para meu irmão. Ele também não se lembrava. Fiquei intrigado. Afinal, tudo parecia tão real. Será que tudo foi um sonho? Mas foi tão verdadeiro! E é estranho, pois, mesmo hoje, estando eu com vinte e cinco anos, aquela noite me parece imensamente real.

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