Foi há
mais ou menos dez anos.
Eu tinha acabado de
começar num emprego
novo, e conversava com
um colega de serviço.
O nome dele é
Celso Anicésio.
Era nossa primeira conversa.
Num determinado trecho
do diálogo –
não me lembro
mais do motivo –
perguntei-lhe se ele
gostava de ler. Depois,
quando nossa amizade
já estava consolidada,
ele me diria que ficara
surpreso com minha pergunta.
Naquele momento, o da
pergunta, ele respondeu
afirmativamente, tirando
da gaveta de sua mesa
um livro que estava
lendo. Era “Olga”,
de Fernando Morais.
Cheguei a pegar no livro
e folheá-lo.
Não sei se era
dele nem me lembro também
se foi cogitada a possibilidade
de a obra ser emprestada
para mim. Celso disse
que estava gostando
da leitura.
No começo
deste semestre, numa
conversa que eu mantinha
com o professor Luiz,
de geografia, ele me
recomendou a leitura
de “Olga”.
Comentei com ele que
o livro já me
havia sido indicado
por um amigo, mencionando
o episódio ocorrido
entre mim e Celso. Os
elogios deste foram
corroborados por Luiz,
que acabou por me emprestar
o livro. Na semana passada,
o li.
Leia-o.
Da mesma forma que lamentei
o fato de ter demorado
tanto tempo para realizar
sua leitura, sinto-me
privilegiado pelo fato
de ela ter vindo. E
prepare-se: após
iniciada, a vontade
será de não
mais parar. O livro
tem densidade, é
tenso, enxuto. E como
é real, tem daquelas
histórias que
a imaginação,
infelizmente, não
concebe. Uma delas é
a história que
envolve o cão
Príncipe. Não
concebo alguém
que pensaria num fato
daqueles para um romance.
Não
escrevo novidade alguma;
o livro foi lançado
há um considerável
tempo; foi muito lido.
Mas se você ainda
não leu, quero
que sinta, a despeito
da lamentável
contada, o quanto sua
leitura é prazerosa,
pois é bem escrito.
Nada como ter o que
contar e saber contar.
Lembrei-me
de um trecho de que
gostei. É de
uma carta escrita Heitor
Lima, advogado: “A
fábula de que
a mulher é um
enigma foi inventada
precisamente para justificar
as atrocidades da civilização
masculina contra ela.
Não há
nada mais facilmente
acessível que
a alma da mulher. O
homem, porém,
finge não entendê-la
a fim de furtar-se a
uma soma de enormes
deveres para com ela”.