OLGA 

 

(Publicada em 30 de outubro de 1.999) 

Foi há mais ou menos dez anos. Eu tinha acabado de começar num emprego novo, e conversava com um colega de serviço. O nome dele é Celso Anicésio. Era nossa primeira conversa. Num determinado trecho do diálogo – não me lembro mais do motivo – perguntei-lhe se ele gostava de ler. Depois, quando nossa amizade já estava consolidada, ele me diria que ficara surpreso com minha pergunta. Naquele momento, o da pergunta, ele respondeu afirmativamente, tirando da gaveta de sua mesa um livro que estava lendo. Era “Olga”, de Fernando Morais. Cheguei a pegar no livro e folheá-lo. Não sei se era dele nem me lembro também se foi cogitada a possibilidade de a obra ser emprestada para mim. Celso disse que estava gostando da leitura.

No começo deste semestre, numa conversa que eu mantinha com o professor Luiz, de geografia, ele me recomendou a leitura de “Olga”. Comentei com ele que o livro já me havia sido indicado por um amigo, mencionando o episódio ocorrido entre mim e Celso. Os elogios deste foram corroborados por Luiz, que acabou por me emprestar o livro. Na semana passada, o li.

Leia-o. Da mesma forma que lamentei o fato de ter demorado tanto tempo para realizar sua leitura, sinto-me privilegiado pelo fato de ela ter vindo. E prepare-se: após iniciada, a vontade será de não mais parar. O livro tem densidade, é tenso, enxuto. E como é real, tem daquelas histórias que a imaginação, infelizmente, não concebe. Uma delas é a história que envolve o cão Príncipe. Não concebo alguém que pensaria num fato daqueles para um romance.

Não escrevo novidade alguma; o livro foi lançado há um considerável tempo; foi muito lido. Mas se você ainda não leu, quero que sinta, a despeito da lamentável contada, o quanto sua leitura é prazerosa, pois é bem escrito. Nada como ter o que contar e saber contar.

Lembrei-me de um trecho de que gostei. É de uma carta escrita Heitor Lima, advogado: “A fábula de que a mulher é um enigma foi inventada precisamente para justificar as atrocidades da civilização masculina contra ela. Não há nada mais facilmente acessível que a alma da mulher. O homem, porém, finge não entendê-la a fim de furtar-se a uma soma de enormes deveres para com ela”.

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