Entre
17h30 e 18h. Finalzinho
de tarde quente demais.
Quando entrei no ônibus,
ele já estava
cheio. Passei pela roleta
e fui para a parte da
frente, esgueirando-me
pelas brechas. Achando
um lugar ideal, eu me
mantinha distraído.
Quando o ônibus
chegou à parada
seguinte, o cobrador
já começara
a pedir aos passageiros
para dar um passinho
para a frente. Esses
passinhos trouxeram
uma morena alta, cabelos
encaracolados, usando
minissaia curtíssima,
feita de um pano espesso
que esticava. A camiseta
branca era cavada.
Figura
delgada, toda atraente.
O andar do ônibus
trouxe mais uma parada.
Um cara todo cheio de
ginga, mascando chiclete,
apareceu. Foi logo começando
a falar palavrões
para a morena. Só
que minha distração
era tanta; demorei a
perceber que o que ele
estava dizendo era para
ser ouvido por ela.
Só comecei a
prestar atenção
no sujeito quando percebi
trocas de olhares entre
os passageiros que estavam
por perto. Uma senhora
fazia uma cara indignada;
um senhor, portando
uma maleta, sorria;
outro passageiro mais
jovem encarava o falastrão
com expressão
austera. Foi essa trama
que me fez perceber
que o garotão
estava no comando do
show.
A vida
prosseguia. Às
vezes, rápida;
às vezes, com
solavancos e sustos;
pouco depois, uma parada
repentina... Assim íamos
sendo levados. A morena
esbelta parecia estar
toda sem jeito. Sestroso,
o conquistador se aproxima
dela mais ainda, valendo-se
dos tradicionais passinhos
para frente a que nós,
passageiros de ônibus,
estamos acostumados.
Desvairado de vez, ele
passou a mão
na bunda dela. Os que
estavam por perto entreolharam-se
e olharam para a garota
e para o rapaz. Ele
deve ter uns 26 anos;
ela, uns 19.
Recebendo
um olhar irritado dela,
sentiu-se ele à
vontade. Novamente passou
a mão nela. Calada,
virou-se de modo que
parecia disposta a tentar
se defender, caso um
novo ataque fosse empreendido.
De minha parte, pensei
até em me intrometer,
passando-me por namorado
dela. Mas isso deveria
ter sido feito logo
quando ele começou
a falar os palavrões.
Pensei também
em dizer que se ele
continuasse eu daria
um murro na cara dele.
Mas rapidamente abandonei
essas idéias.
Eu não queria
comprar briga nem apanhar.
Quando
a morena se preparava
para descer, quem foi
junto?... Ele mesmo,
o mascla-chiclete de
camisa toda desabotoada.
Ela, preparada para
descer; ele, encostado
nela. Ela desceu. Ele
também. Mais
dois passageiros abandonaram
o ônibus. A morena
caminhou. Ele foi atrás
e lhe disse algo. Ela
parou e conversou com
quem parecia ser uma
amiga. Ele, antes de
prosseguir, aproximou-se
do ouvido dela, falou
algo e foi embora, assim
como o ônibus.