A etimologia
aproxima as palavras
porque nos conduz à
sua essência.
Essencialmente, muitas
palavras guardam semelhanças
univitelinas. Isso une
muitas delas; pode-se
colocar inúmeras
delas num só
saco. Outras virão,
com suas essências
devidamente escarafunchadas.
Vão se entender
com as outras, já
essencializadas. Algumas
uniões, a princípio,
causarão estranheza,
soarão inconcebíveis.
Com o passar do tempo,
serão legitimadas.
No fim, tudo se torna
farinha do mesmo saco.
Tenho
pensado muito nas palavras
e, por extensão,
naqueles que as utilizam
com afinco. Joyce tem
me ocorrido freqüentemente;
mais freqüentemente
como nunca, por ter
eu conseguido trechos
do “Ulisses”
no original; mais freqüentemente
do que nunca, após
eu ler que no “Finnegans
Wake” há
a invenção
de palavras por intermédio
do conhecimento de idiomas.
(Guimarães Rosa
não ficava atrás.)
(A Universidade de Poesia
dos sonhos de W.H. Auden
apresentaria em seu
currículo também
o seguinte: “Além
do estudo da língua
inglesa (ele ira inglês),
seria obrigatório
o estudo de pelo menos
uma língua antiga,
provavelmente grego
ou hebraico, e de dois
idiomas modernos”.)
A palavra
só se revela
após o labor.
A busca da essência-palavra
para jogar luz sobre
o homem-enigma. Decifrar-se
pela palavra. Decifrando
a palavra, o homem se
decifra. Ousar a palavra
é um meio de
sair de si próprio
só para ir-se
indo cada vez mais ao
encontro de si mesmo.
Um meio de sair-entrar-se
(não necessariamente
nessa ordem). Apenas
um. Não vale
mais nem menos do que
outros. Quem ousa um
meio tem algum caminho
andado.
As palavras
me fazem amar o mundo,
e um dos primeiros autores
a me fazer amar as palavras
foi Carlos Drummond
de Andrade. Um cara
inteligente; era essa
a impressão que
ele me deixava. Deixa.
Uma das vezes em que
eu mais ri foi após
ler um poema de Drummond,
um que ele colocou no
papel a precisão
de escrever algo sobre
a Bahia, mas o problema
era que ele nunca tinha
ido lá. Anos
se passaram. Numa bela
leitura, Auden me explicou
uma das razões
de eu tanto gostar de
Drummond: “Não
encontro um denominador
comum entre as pessoas
de que gosto ou que
admiro, mas entre as
que amo: todas me fazem
rir”.