Eu estava
dormindo. Meu pai me
acordou e disse: “O
Patrício morreu,
Lívio”.
Cresci ouvindo o Patrício.
Havia uma canção-vinheta
que citava o nome dele;
eu gostava de ouvi-la.
Acordam-me e eu me preparava
para a aula ouvindo
o Patrício, hábito
que vinha antes dos
tempos escolares. Muitas
vezes, já em
meio aos colegas, era
comum alguém
chegar e comentar algo
que havia sido dito
pelo Patrício.
Não
consigo imaginar alguém
de Patos de Minas que
nunca tenha ao menos
ouvido falar do Patrício.
Os pais de meus pais
ouviram o Patrício;
meus pais ouviram o
Patrício; eu
e meus irmãos
ouvimos o Patrício;
o filho de meu irmão
chegou a ouvir o Patrício.
Não
tive muito contato com
ele. Éramos colegas
de serviço, mas
não trabalhávamos
no mesmo turno. A imagem
que para mim vai ficar
é a de um senhor
de cabelos brancos,
gestos e caminhar contidos
e a voz familiar –
familiar no sentido
literal, pois a voz
dele era de casa.
Quando
eu apenas o ouvia, pensava
em alguém de
cabelos pretos, bastante
barbudo e usando óculos
escuros, numa dessas
sempre errôneas
imagens que fazemos
da aparência dos
locutores.
Cada
um tem sua lembrança
ou lembranças
de Patrício.
A de Aldo Fernandes
Caixeta, um grande amigo,
é curiosa. Quando
ele me contou a história,
eu soube no momento
que ela já se
tornara inesquecível.
Estávamos
conversando sobre a
infância, em especial
sobre as respostas que
dávamos quando
alguém nos perguntava
o que seríamos
quando crescêssemos.
Ele me disse que quando
lhe perguntavam o que
seria, ele respondia:
“Quero ser patrício”,
por achar que patrício
era o nome do profissional
que fala no rádio.
Sabendo da morte do
comunicador, imediatamente
me lembrei dessa história
Ao comentar com o Aldo,
ele também disse
ter se lembrado.
Patrício
se foi. Patrício
é adjetivo sugestivo.
O Aldo não estava
de todo errado em querer
ser patrício.
Héron Patrício,
um dos irmãos,
é trovador, e
é dele a trova
seguinte:
“Tempo
é moinho rangendo,/triturando
a mocidade./Trigais
de sonhos moendo/para
meu pão de saudade!”