QUERO SER PATRÍCIO 

 

(Publicada em 6 de outubro de 1.997) 

Eu estava dormindo. Meu pai me acordou e disse: “O Patrício morreu, Lívio”. Cresci ouvindo o Patrício. Havia uma canção-vinheta que citava o nome dele; eu gostava de ouvi-la. Acordam-me e eu me preparava para a aula ouvindo o Patrício, hábito que vinha antes dos tempos escolares. Muitas vezes, já em meio aos colegas, era comum alguém chegar e comentar algo que havia sido dito pelo Patrício.

Não consigo imaginar alguém de Patos de Minas que nunca tenha ao menos ouvido falar do Patrício. Os pais de meus pais ouviram o Patrício; meus pais ouviram o Patrício; eu e meus irmãos ouvimos o Patrício; o filho de meu irmão chegou a ouvir o Patrício.

Não tive muito contato com ele. Éramos colegas de serviço, mas não trabalhávamos no mesmo turno. A imagem que para mim vai ficar é a de um senhor de cabelos brancos, gestos e caminhar contidos e a voz familiar – familiar no sentido literal, pois a voz dele era de casa.

Quando eu apenas o ouvia, pensava em alguém de cabelos pretos, bastante barbudo e usando óculos escuros, numa dessas sempre errôneas imagens que fazemos da aparência dos locutores.

Cada um tem sua lembrança ou lembranças de Patrício. A de Aldo Fernandes Caixeta, um grande amigo, é curiosa. Quando ele me contou a história, eu soube no momento que ela já se tornara inesquecível.

Estávamos conversando sobre a infância, em especial sobre as respostas que dávamos quando alguém nos perguntava o que seríamos quando crescêssemos. Ele me disse que quando lhe perguntavam o que seria, ele respondia: “Quero ser patrício”, por achar que patrício era o nome do profissional que fala no rádio. Sabendo da morte do comunicador, imediatamente me lembrei dessa história Ao comentar com o Aldo, ele também disse ter se lembrado.

Patrício se foi. Patrício é adjetivo sugestivo. O Aldo não estava de todo errado em querer ser patrício. Héron Patrício, um dos irmãos, é trovador, e é dele a trova seguinte:

“Tempo é moinho rangendo,/triturando a mocidade./Trigais de sonhos moendo/para meu pão de saudade!”

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