Pantagruélico
como sempre, ele sentou-se
à mesa para mais
uma refeição.
Os pensamentos de Estevão
Machado eram entusiasmados
naquela ocasião.
Tremendamente aliviado,
ele se sentia mais apto,
mais gente, mais professor.
Sempre
lecionara para o segundo
grau. Escolha própria.
Sempre que lhe ofereciam
aulas no primeiro grau,
ele recusava, por achar
que não teria
tato para lidar com
os pentelhos. Quando
lhe disseram que o único
jeito seria dar aulas
para a quinta série,
Estevão sentiu
um temor ao imaginar-se
falando para um bando
de crianças peraltas,
como ele havia sido.
Sentiu desânimo,
e só não
disse não por
que sabia que a outra
possível saída
seria pedir demissão.
Em casa,
ele pensou em ligar
para alguém que
já lecionara
para o primeiro grau,
mas mudou de idéia;
pensou que procedimento
poderia ser adotado,
imaginou-se sendo perscrutado
pelas crianças,
incomodado pela agitação
habitual delas; pensou
na estranheza que elas
sentiriam, por estar
acostumadas com uma
professora. Teorizou,
teorizou e quando se
deu conta, já
era hora de partir em
direção
à sala 5, dedicada
aos alunos da quinta
série. Partiu
e tentou impor a si
um ar de confiança,
de quem sabe o que faz.
Faltando uns vinte ou
trinta metros para estar
à porta da sala,
e ele já podia
ouvir a trivial vozeria
aguda dos estudantes.
Ao cruzar
a soleira, houve uma
petrificação
no ambiente. Elas se
calaram automaticamente
e o acompanharam atravessar
o recinto. Estevão,
ainda sem encarar os
alunos, colocou sua
pasta sobre a mesa,
escreveu seu nome no
canto superior esquerdo
do quadro, embaixo escreveu
que matéria lecionaria,
virou-se de frente e
lhes desejou bom dia.
O bom-dia deles foi
lânguido, não
combinando com a vitalidade
que eles irradiavam
momentos atrás.
Disse-lhes que teria
de copiar muita coisa
no quadro, pois o material
não havia chegado
ainda. Pediu a eles
que copiassem. A matéria
seria explicada em seguida.
Para
surpresa dele, os alunos
o trataram amistosamente,
sentiram-se à
vontade para fazer perguntas
e para atrapalhar a
aula. A sensação
que ficou em Estevão
foi a de que eles se
conheciam há
muito. Até ele
se sentiu mais à
vontade, coisa que no
segundo grau não
ocorria. Passados os
cinqüenta minutos,
ele se viu gostando
da diabada e se sentindo
como um deles.