Ele saiu
do trabalho e foi pra
casa. Lá chegaria
e estudaria um pouco,
pois haveria prova de
português na escola.
Despreocupado, foi rapidamente
percorrendo o caminho
que o levaria a seu
destino. Ao passar em
frente a uma outra escola,
olhou para o prédio,
coisa que tinha o hábito
de fazer, por considerar
a sua fachada extremamente
rude. Ele não
se cansava de reparar
naquela rudeza.
Chegando,
ninguém em casa.
Ligou o rádio
e foi para a cozinha,
onde fez um rápido
lanche. Enquanto comia,
seu irmão chegou.
Saudaram-se com as usuais
“ofensas”.
Deixando seu irmão
na cozinha, foi para
o quarto e apanhou a
apostila, para uma leitura
na matéria. Deu
uma olhadela no conteúdo
e achou por bem tomar
banho antes do estudo.
Assim
que o banho começou,
sua mãe chegou.
Ela se aproximou da
porta do banheiro e
perguntou para o filho
se ele queria jantar.
Ele disse que não,
e logo constatou algo
diferente. Pela primeira
vez sua mãe não
havia dito que se ele
quisesse ela esquentaria
a comida. Aquilo era
de se espantar. Ele
tentou buscar um momento
em que sua mãe
não havia lhe
dito que, se ele quisesse,
ela poderia esquentar
a comida, mesmo após
seu não. Buscou
com atenção
esse momento, mas não
o achou. Esqueceu-se
da singularidade da
ocasião, terminou
o banho e deu uma estudadinha.
No momento
em que saiu, ninguém
em casa. Ele trancou
as portas, o portão
e partiu, não
se esquecendo, posteriormente,
de olhar uma vez mais
para a rude fachada.
Quando chegou ao ponto
do ônibus, uma
colega de sala estava
estudando. Ele a cumprimentou
rapidamente e a abandonou
com as palavras dela.
Chegou à escola,
foi para a sala e aguardou
a professora, que em
poucos minutos chegaria,
trazendo uma prova que
ele não achou
difícil, o que
o deixaria com um bom
espírito até
o término da
aula. Antes de seu retorno
para casa, ele e mais
três colegas de
sala passaram num bar
e tomaram três
cervejas. No caminho
de volta, enquanto olhava
para a rude fachada,
lembrou-se do ocorrido
no momento em que ele
estava no banheiro –
pensamento que logo
ficou para trás,
tal qual a fachada.
Quando
se aproximava de casa,
faltando uma esquina,
sentiu logo uma vontade
de correr, movido pelo
que vira. Rendendo-se
ao impulso, disparou.
Todo aquele movimento...
Quando chegou, teve
a confirmação
do pensamento que tomara
conta de sua vida enquanto
percorria aquela esquina
que faltava: sua mãe
havia morrido.