OS ANFÍBIOS 
 

(Publicada em 12 de janeiro de 1.996) 

Ao chegar em casa após a meia-noite, vindo do trabalho, eu guardava a bicicleta num cômodo separado da casa, uma espécie de garagem para as bicicletas. Em noites de garoa eu chegava, acendia a luz e olhava com acuidade para o chão, evitando assim pisar algum sapo, já que eles são comuns em noites chuvosas. Em noites assim, sempre era esse o procedimento.

Um belo dia, quando fui acender a luz, tudo escuro. Era uma vez claridade. Assim sendo, habituei-me a chegar e fingir não haver em mim o receio de pisar um sapo. Acostumei-me a agir desse modo. Quando o hábito já estava arraigado, instalaram nova lâmpada no cômodo, precisamente num dia em que caía uma garoa. Cheguei em casa, acendi a luz e vasculhei o chão. Mesmo não deparando nenhum sapo ou afins, fiquei com receio de entrar na garagem. Anteriormente, no escuro, com ou sem chuva, a coragem era maior.

_____

Há em minha casa uma garagem onde guardamos as bicicletas. Sempre que chego em casa, após a meia-noite, vindo do serviço, é lá que guardo minha bicicleta. O ritual é esse, exceto em noite de garoa, pois quando vem a chuva, tomo cuidado para não pisar algum sapo, esses anfíbios tão comuns em noites chuvosas. Se chovesse, mesmo com a luz da garagem acesa, eu não desgrudava o olhar do chão, com o intuito de não me envolver em um confronto direto com algum sapo.

Mas num belo dia, após chegar em casa, nada de luz no recinto onde coloco a bicicleta. Como não chovia, não me preocupei. E quando chovesse? Passou o tempo e nada de luz. Um dia, tudo de chuva. Não havendo mesmo a possibilidade de deixar do lado de fora a bicicleta, guardei-a rápido. Com o passar do tempo fui me acostumando com a ausência de luz, e mesmo em noites de chuva, eu agia como quem não estava temeroso, e de supetão guardava a bicicleta. Tanto me acostumei com tal procedimento que num certo dia cheguei em casa e apertei o interruptor, pois uma lâmpada havia sido instalada. Precisamente naquele dia, chovia, e, mesmo com o ambiente iluminado, vacilei para guardar a bicicleta.

® 2005 
-   -  Lívio Soares de Medeiros  - All rights reserved