Quando
eu cursava o primário
do Frei Leopoldo, na
época em que
a escola ficava na Minas
Gerais, esquina com
avenida Brasil, a luz
do Sol passava pela
janela e chegava até
minha carteira. Eu pegava
então uma caneta
e fazia a luz passar
por ela, criando um
pedacinho de arco-íris
sobre a escrivaninha
da escola. Eu girava
a caneta, mudava-a de
posição;
às vezes, pegava
duas, tentando misturar
as belas cores. Não
me lembro bem se foi
no primário ou
se foi quando eu já
estudava no Polivalente.
Mas sei que de algum
modo ficou em minha
cabeça que aquele
fenômeno estava
ligado ao que já
é conhecido como
refração.
Neófito
em vestibulares, decidi
tentar a aprovação
em janeiro deste ano,
aqui em Patos de Minas.
Cheio de despreparo,
cheguei pela manhã
à faculdade.
O primeiro dia de prova
seria para mim decisivo.
Provas de língua
portuguesa, de literatura
brasileira e de redação.
Provavelmente por isso,
um certo nervosismo
senti. Eu sabia que
não me sairia
bem nas provas de matemática,
de física, de
história, de
geografia, de biologia
e de química,
por não ter feito
nenhum cursinho e por
tê-las estudado
apenas no primeiro ano
do segundo grau. A partir
do segundo ano eu estudaria,
em grande parte, somente
as matérias que
diziam respeito ao curso.
Após interrupções,
recebi o diploma de
técnico em edificações
no ano de 1.993.
Como
esperado, fui mal na
prova de matemática.
Mas na de física,
fui pior. Tirando zero
em qualquer matéria,
eu estaria fora do páreo.
Parti então para
a duvidosa atitude de
marcar apenas a mesma
letra em todas as questões,
tentando fugir do “zeramento”
de uma forma execranda.
Só que a prova
de física, encasquetei
que conseguiria resolver
algumas questões.
Uma delas, a seguinte:
“Um raio de luz
ao atravessar um prisma
de vidro, sai em uma
direção
diferente daquela que
tinha ao atingir o prisma
porque sofre...”.
Marquei a letra d: refração.
Fiz essa escolha por
me lembrar da luz que
entrava pela janela
da escola e passava
pela caneta. A verdade
é que as cores
do arco-íris
eram então criadas
pela dispersão,
como bem me explicou
o professor Geraldo
de Arvelos. Mas eu me
lembrava de um dia ter
aprendido que a refração
fazia parte de toda
aquela beleza.
Errei
todas as demais questões
da prova de física.
Fui aprovado por um
raio de luz. Viva o
precursor Newton! Viva
a física! Viva
a luz! Salvo pela refração,
descobri os encantos
da dispersão.